São José de Anchieta não teve medo da alegria, afirmou o Papa Francisco
25 de abril de 2014, sextaO papa Francisco presidiu nesta quinta-feira, às seis da tarde, na Igreja romana de Santo Ignácio de Loyola, a missa de ação de graças pela canonização de São José de Anchieta. O Santo Padre assinou no dia 3 de Abril o decreto de canonização do padre Anchieta, juntamente com o de outros beatos canadenses: a mística missionária Maria da Encarnação (Guyart) e o bispo Francisco de Montmorency -Laval. Os três tinham sido beatificados em 1980 por João Paulo II.
A canonização do jesuíta de Tenerife José de Anchieta foi feita através do processo chamado ‘equipolente’, já que não responde a um milagre recente, mas se reconhece o seu intenso trabalho de evangelização no Brasil, realizado na segunda metade do século XVI.
Na sua chegada à igreja, o Pontífice argentino foi recebido com aclamações e aplausos pelos muitos fiéis e curiosos que se aglomeravam nas portas do templo. E é que Roma se encontra tomada por milhares de peregrinos de vários países que vieram para a capital italiana participar, no próximo domingo, da canonização de João XXIII e João Paulo II.
A igreja de Santo Ignacio recebeu cerca de mil pessoas durante a celebração. A delegação canária, com umas oitenta pessoas, está encabeçada pelos dois bispos das Canárias, monsenhor Bernardo Álvarez (Tenerife) e monsenhor Francisco Cases (Gran Canária), o presidente do Governo regional, Paulino Rivero, o do Conselho de Tenerife, Carlos Alonso, e o prefeito de La Laguna - cidade natal de São José de Anchieta - Fernando Clavijo, entre outros. Representando o Governo Espanhol, o ministro José Manuel Soria, que também é canário.
Na Eucaristia, que tem sido em português, participaram as primeiras autoridades religiosas do Brasil: os cardeais Damasceno, Hummes, Braz e Scherer. Mesmo assim, o Santo Padre fez sua homilia em espanhol. A seguir, reproduzimos as palavras do Papa durante Francisco durante a missa de ação de graças:
No trecho do Evangelho que acabamos de ouvir os discípulos não conseguem acreditar na alegria que têm porque “não podem crer por causa dessa alegria”, assim diz o Evangelho. Olhemos a cena: Jesus ressuscitou, os discípulos de Emaús narraram a sua experiência. Pedro também conta o que viu. Logo, o mesmo Senhor aparece na sala e lhes diz: “A paz esteja convosco”. Vários sentimentos invadiram os corações dos discípulos: medo, surpresa, dúvida e, finalmente, alegria. Uma alegria tão grande que, por esta alegria “não conseguem crer”. Estavam atônitos, pasmados, e Jesus, quase mostrando um sorriso, pede a eles algo para comer e começa a explicar-lhes, devagar, a Escritura, abrindo o seu entendimento para que pudessem comprendê-la. É o momento da maravilha do encontro com Jesus Cristo, onde tanta alegria nos parece mentira; mais ainda, assumir o gozo e a alegria nesse momento é arriscado e sentimos a tentação de refugiar-nos no ceticismo, “não é para tanto”. É mais fácil acreditar em um fantasma do que em Cristo vivo. É mais fácil ir a um quiromante que adivinhe o seu futuro, que joga as cartas, do que confiar na esperança de um Cristo triunfante, de um Cristo que venceu a morte. É mais fácil uma ideia, uma imaginação do que a docilidade a esse Senhor que surge da morte e vai lá saber as coisas às quais nos convida. É o processo de relativizar tanto a fé que termina nos distanciando do encontro, da carícia de Deus. É como se “destilássemos” a realidade do encontro com Jesus Cristo no alambique do medo, no alambique da excessiva segurança, do querer controlar, nós mesmos, o encontro. Os discípulos tinham medo da alegria... E nós também.
A leitura dos Atos dos Apóstolos nos fala de um paralítico. Escutamos somente a segunda parte dessa história, mas todos conhecemos a transformação deste homem: aleijado desde o nascimento, prostrado na porta do Templo para pedir esmola, sem nunca atravessar sua soleira; e como os seus olhos se fixaram nos Apóstolos, esperando que lhe dessem algo. Pedro e João não podiam dar-lhe nada do que ele procurava: nem ouro, nem prata. E ele, que sempre tinha ficado na porta, agora entra por conta própria, dando saltos, e louvando a Deus, celebrando as suas maravilhas. E a sua alegria é contagiosa. Isso é o que hoje nos fala a Escritura: as pessoas se admiravam, e assombradas vinham correndo para ver essa maravilha.
É que a alegria do encontro com Jesus Cristo, essa que nos dá tanto medo de assumir, é contagiosa e grita o anúncio, e aí cresce a Igreja. O paralítico crê. “A Igreja não cresce por proselitismo, cresce por atração”; a atração testemunhal deste gozo que anuncia Jesus Cristo. Esse testemunho que nasce da alegria assumida e logo transformada em anúncio. É a alegria fundamental. Sem este gozo, sem esta alegria, não é possível fundar uma igreja, uma comunidade cristã. É uma alegria apostólica, que irradia, que expande. Me pergunto: Como Pedro, sou capaz de sentar-me com o meu irmão e explicar devagar o dom da Palavra que recebi? É contagiá-lo da minha alegria! Sou capaz de convocar ao meu redor o entusiasmo daqueles que descobrem em nós o milagre de uma vida nova, que não é possível controlar, à qual devemos docilidade porque nos atrai, nos leva; essa vida nova nascida do encontro com Cristo?
Também São José de Anchieta soube comunicar o que ele tinha experimentado com o Senhor, “o que tinha visto e ouvido” dele; o que o Senhor lhe comunicou nos seus exercícios. Ele, junto com Nóbrega, é o primeiro jesuíta que Ignácio envia à América. Um garoto de 19 anos. Era tal a alegria que tinha, tal o gozo, que fundou uma nação, colocou os fundamentos culturais de uma nação em Jesus Cristo. Não tinha estudado teologia, não tinha estudado filosofia; era um garoto, mas tinha sentido o olhar de Jesus Cristo e se deixou alegrar, e optou pela luz. Essa foi e é a sua santidade. Não teve medo da alegria.
São José de Anchieta tem um belo hino à Virgem Maria, a quem, inspirando-se no cântico de Isaías 52, compara com a mensagem que proclama a paz, que anuncia o gozo da Boa Nova. Que ela, que nessa madrugada do domingo, sem dormir pela esperança, não teve medo da alegria, nos acompanhe na nossa peregrinação, convidando todos a se levantarem, a renunciar à paralisia, para entrarmos juntos na paz e na alegria que Jesus, o Senhor Ressuscitado, nos presenteia. (ZENIT)
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