Beatificação revela quem era em verdade Mons. Romero, assegura seu vigário geral
25 de maio de 2015, segundaMons. Ricardo Urioste, em seu papel de vigário geral foi um dos mais próximos colaboradores de Mons. Óscar Romero, o Arcebispo de San Salvador (El Salvador) assassinado por ódio à fé em 1980. Para ele, a beatificação do Prelado é “um triunfo da verdade”.No meio de uma nascente guerra civil entre a guerrilha de esquerda e o governo de extrema direita, Mons. Óscar Romero foi assassinado o 24 de março de 1980. O Papa Francisco reconheceu que sua morte foi por ódio à fé e aprovou sua beatificação que se celebra este sábado em San Salvador.Em declarações a ACI Imprensa o 22 de maio, Mons. Ricardo Urioste, hoje presidente da Fundação Monsenhor Romero, assinalou que a beatificação do Arcebispo de San Salvador “é o triunfo da verdade, de quem era realmente Mons. Romero, que fez, como o fez, desde a Palavra de Deus, desde o Magistério da Igreja, em defesa dos pobres, que eram os preferidos de Jesucristo e eram também os preferidos de Mons. Romero”.O sacerdote recordou que “cá em El Salvador, nos tempos de Mons. Romero, quando ele pregava, falava, era pastor, acusaram-no de comunista, de marxista, de político, de mil coisas”.“E ninguém como Roma estudou a Mons. Romero, tiveram-no 12 anos. (Revisaram) todos seus escritos, todas suas homilias, e não encontraram nada do que acusavam a Mons. Romero”, assegurou.Mons. Urioste assinalou que uma das principais características de Mons. Romero foi “seu grande sentido do trabalho. Era um homem enormemente trabalhador e entregado a seu labor dia e noite, e até a meia-noite e até a madrugada”.“Assim preparava suas homilias dos domingos, desde o sábado com as três leituras da Eucaristia e comentava baseado nos Pais da Igreja, baseado no Magistério da Igreja e relacionado com a realidade do país. Uma homilia que não tem essa relação com o que está ocorrendo soa o mesmo aqui que em Irlanda, em Paris, que em qualquer lado”.
No tempo de Mons. Romero, recordou, “tínhamos um governo de uma ditadura militar feroz, tinha como lema ‘a segurança nacional’, e tudo aquele que estava com os pobres, que se preocupava com os pobres era acusado de comunista, mandavam-no a matar sem pensar mais, e teve 70 mil mortos dessa maneira no país nessa época”.
“A realidade econômico social era de muita pobreza, de muita falta de emprego, de salários baixíssimos”.Mons. Romero não era marxista nem leu livros de Teologia da LiberaciónA pesar das acusações levantadas contra o Arcebispo de San Salvador, disse seu vigário geral, “jamais esteve na mente de Mons. Romero um pensamento marxista ou uma ideologia marxista. Se tivesse sido assim, ao Vaticano, que o estudou tanto, não o tivesse beatificado, se tivessem encontrado que ele tinha gostos marxistas”.O verdadeiro sustento de sua cercania aos pobres, indicou, foi o Evangelho e o Magistério da Igreja.“Ele teve ao Evangelho como seu servidor, não leu nunca nada da Teologia da Libertação, mas sim leu a Bíblia”.
Ao igual que Mons. Jesús Delgado, quem fora secretário pessoal de Mons. Romero, Mons. Urioste constatou que na biblioteca do Arcebispo mártir salvadorenho “tinha todos esses livros dos Pais da Igreja primitiva, do Magistério atual da Igreja, mas não abriu sequer nunca nenhum dos livros da Teologia da Libertação, nem de Gustavo Gutiérrez, nem de nenhum outro”.“Leu a Bíblia e aí se encontrou com um Jesús amante dos pobres e isso o encaminhou a ele”, disse.O dia da morte de Mons. RomeroMons. Urioste recordou o dia do assassinato de Mons. Romero, “um dia ordinário de trabalho” para o Arcebispo de San Salvador.“Monsenhor andava trabalhando também, teve uma reunião essa manhã com um grupo de sacerdotes para tratar alguns temas determinados. Almoçaram aí juntos. Ele voltou a confessar-se, com seu confessor espiritual que era o P. (Segundo) Ascue, e depois se foi à Missa que tinha às 6 da tarde, que tinham publicado grandemente que ele ia estar à frente dessa Eucaristia”.
Esse dia, passadas as 6:00 p.m., quando celebrava Missa na capela do hospital A Divina Providência, atendido por religiosas em San Salvador, Mons. Romero foi assassinado de um disparo no peito, realizado desde o exterior do templo.Mons. Urioste recordou que “me falaram por telefone, eu fui imediatamente ao hospital, já se o tinham levado à policlínica. Chegou um conjunto de televisão, fizeram-me uma entrevista, depois me fui ao hospital em onde estava”.“Como iam-no embalsamar eu disse às irmãs que por favor estivessem atenciosas a que não atirassem suas entranhas em qualquer lugar, senão que as recolhessem e as enterrassem, e assim o fizeram, enterrando-as frente a seu apartametito que tinha no hospital onde ele vivia”.Três anos mais tarde, por motivo da visita de San JOÃO PAULO II ao país, às religiosas do hospital “se lhes ocorreu fazer um monumento à Virgem, no mesmo lugar onde tínhamos enterrado as entranhas” de Mons. Romero.“Quando foram escavando se toparam com a caixa e com a bolsa plástica onde se tinham posto as entranhas, e o sangue estava líquido e as entranhas estavam sem nenhum mau cheiro”, revelou.
“Eu não quero dizer que foi um milagre, é possível que seja um fenômeno natural, mas a verdade é que isso ocorreu e lhe dissemos ao Arcebispo desse tempo (Mons. Arturo Rivera e Damas), olhe Monsenhor, ocorreu tal coisa e ele disse ‘calem-se, não digam nada a ninguém porque vão dizer que são inventos nossos’”, assinalou.No entanto, destacou, “ao Papa JOÃO PAULO II se lhe deu um botecito com o sangue de Mons. Romero”.Mons. Urioste recordou que quanto chegou a San Salvador, o primeiro que fez San JOÃO PAULO II “foi ir à Catedral sem avisar a ninguém. A Catedral estava fechada, tiveram que ir procurar quem abrisse, para que o Papa pudesse entrar e postrarse ante a tumba de Mons. Romero”.
Nessa ocasião JOÃO PAULO II pediu que não manipulem a memória de Mons. Romero, recordou, e lamentou que “sim o politizaram, politizaram-no as esquerdas pondo-o como bandeira deles. E o politizaram as direitas dizendo coisas que não são verdadeiras de Monsenhor, que são puramente falsas, denegriram-no”.O grande desejo da Igreja no país, disse Mons. Urioste, é que “a figura de Monsenhor, conhecida agora um pouco mais do que era antes, seja um motivo de reflexão, motivo de paz, motivo de perdão, motivo de reconciliação entre uns e outros, e tenhamos mais paciência para ir renovando-nos todos e seguir os caminhos do que Mons. Romero nos propôs”.“Eu penso que a figura dele vai contribuir bastante para um melhor encontro e reconciliação em El Salvador”, assinalou.