Dom Murilo Krieger, bispo primaz do Brasil, assume posicionamento firme contra a PEC 241-55

31 de outubro de 2016, segunda Dom Murilo Krieger, bispo primaz do Brasil, assume posicionamento firme contra a PEC 241-55

Em uma nota surpreendente, o arcebispo Dom Murilo Krieger, da Arquidiocese de Salvador, não somente faz uma defesa contundente do posicionamento vigoroso da CNBB desta semana contra a PEC 241 (agora PEC 55, no Senado), mas vai além. Diz, por exemplo, que "para o capital mundial, esta PEC é tudo o que ele gostaria de ver aprovado. Os bancos, que já ganharam muito nos últimos anos, vão ganhar ainda mais. Sobrará dinheiro para investirem na imprensa, dizendo que esse sacrifício é mesmo necessário para o bem do Brasil". Dom Murilo pergunta: "Se a PEC 241 é tão boa assim, porque seu conteúdo não foi colocado para a sociedade discutir? Por que foi aprovada pela Câmara Federal tão rapidamente?"

A CNBB já havia divulgado nota, também contrária a PEC.

VEJA ÍNTEGRA DA NOTA

"O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, scj, em apoio a nota publicada pela CNBB sobre a PEC 241, publicou as seguintes observações:

Quanto às reações à NOTA DA CNBB PEC 241, aprovada pelo Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, tenho a dizer o seguinte:

1º - "Um ponto de vista, é a vista de um ponto!" O Conselho Permanente da CNBB emitiu esta Nota consciente de que é preciso alertar a Nação para os males da PEC 241. Procurou colocar-se, pois, do ponto de vista dos mais necessitados e que mais sofrerão suas consequências. Se a PEC 241 é tão boa assim, porque seu conteúdo não foi colocado para a sociedade discutir? Por que foi aprovada pela Câmara Federal tão rapidamente? (Alguém se lembra de outra Proposta de Emenda à Constituição aprovada em tão pouco tempo?...). Afinal, não se trata de uma Proposta qualquer, mas de uma proposta de emenda àquele que é o nosso texto principal: a Constituição.

2º - Com a PEC 241 haverá limites para o investimento em saúde, educação etc., mas não foi colocado limite algum para o pagamento dos juros da dívida pública. Aliás, por que o Governo não faz uma auditoria da dívida pública? Não fazendo, apenas repete o comportamento do Governo anterior que, antes de ser eleito, falou muito da necessidade de fazer essa auditoria; ficou no Governo 14 anos e nada fez. Vamos continuar assim, simplesmente pagando juros?

3º - Para o capital mundial, esta PEC é tudo o que ele gostaria de ver aprovado. Os Bancos, que já ganharam muito nos últimos anos, vão ganhar ainda mais. Sobrará dinheiro para investirem na Imprensa, dizendo que esse sacrifício é mesmo necessário para o bem "do Brasil".

4º - Chamar de marxista quem pensa diferente de nós é o mesmo que condenar Jesus por ter dito aos apóstolos, diante da fome da multidão: "Dai-lhes vós mesmos de comer!" Se pensar nos pobres e nos que mais serão afetados pela PEC 241 for um gesto marxista, perguntemo-nos: O que fazer com o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja, dele consequente?

5º - Cada qual tem direito de pensar diferente; a própria Nota incentiva o diálogo, que não tem havido. Peço apenas, aos que pensam diferente do que está na referida Nota, que a guardem e a releiam daqui a 3 ou 4 anos...

Quem viver, verá.

Em Cristo Jesus,

Dom Murilo S. R. Krieger, scj

Arcebispo de Salvador

Primaz do Brasil