Apocalipse

A CORAGEM DO TESTEMUNHO

Apocalipse quer dizer revelação (1,1). Este livro, portanto, é uma mensagem reveladora. O autor procura revelar o mistério (10,7) do que está acontecendo e do que vai acontecer: Deus vai agir na história, julgando e destruindo o mal, para implantar definitivamente o seu Reino entre os homens (11,15).

O Apocalipse é de compreensão difícil, porque o autor faz largo uso de imagens, símbolos, figuras e números misteriosos. Isso pode ser facilmente entendido, quando vemos que o livro nasce dentro de uma situação difícil: o povo de Deus está sendo oprimido, perseguido e vigiado pelas estruturas de poder. Em tais circunstâncias não se pode falar claro principalmente porque o autor pretende mostrar a situação real e traçar uma estratégia de resistência e ação. As comunidades a que ele se dirige entendem essa linguagem, pois estão familiarizadas com o Antigo Testamento, onde o autor vai buscar os símbolos.

Dois grandes motivos levaram o autor a dirigir sua mensagem às comunidades cristãs (igrejas) da Ásia Menor:

1. O sincretismo religioso. As conquistas de Alexandre Magno e, mais tarde, a dominação romana, unificaram numerosas nações, misturando culturas, costumes e religiões. Para o cristianismo nascente, isso podia significar o desvirtuamento interno, a perda da identidade, a desagregação das comunidades e, conseqüentemente, a ausência de testemunho corajoso contra a idolatria, principalmente a idolatria de um poder político absoluto e tirânico.

2. A dominação romana e a religião imperial. No tempo do imperador Nero (54-68 d.C.), os cristãos foram perseguidos pela primeira vez, mas só em Roma, e não por causa da fé. Era tempo de decadência, e a autoridade do imperador estava seriamente abalada. Para reafirmar-se, o imperador Vespasiano (69-79 d.C.) criou a religião imperial, isto é, o culto aos imperadores mortos, além de atribuir a si mesmo títulos divinos, como "salvador", "benfeitor", "senhor". Domiciano (81-96 d.C.) foi imperador tirano e, para manter o império unido, impôs essa religião imperial a todos os povos dominados, exigindo inclusive o culto ao imperador vivo. Quem recusasse tal culto, era considerado inimigo, e por isso perseguido e morto.

João queria advertir os cristãos quanto aos perigos internos e externos e fortalecer as comunidades para os momentos difíceis que iriam passar por causa da fé. Era necessário que as comunidades se convertessem, voltando à opção original pelo seguimento e testemunho de Jesus. Desse modo, elas estariam preparadas para testemunhar corajosamente a fé, resistindo às perseguições e desenvolvendo ação libertadora, que manifestasse ao mesmo tempo decidida crítica à situação de opressão e firme esperança de uma sociedade nova.

O livro de João é alimento para a fé e fortalecimento para a esperança do povo oprimido. Para esse povo, a salvação não consiste simplesmente em melhorar a situação, mas em transformá-la radicalmente, fazendo nascer um novo mundo de justiça, fraternidade e partilha, isto é, o julgamento definitivo do mundo presente e a vinda do Reino de Deus. João mostra, porém, que esse julgamento e Reino se realizam através do seguimento e testemunho de Jesus.