RESISTIR EM NOME DA FÉ
O título do livro surgiu do apelido de «Macabeu», dado a Judas, filho mais famoso de Matatias. O texto foi escrito em hebraico no início do séc. I a.C., mas o original se perdeu. A Bíblia católica conserva apenas a tradução grega.
O autor apresenta os acontecimentos que cobrem o período de 175 a 134 a.C. O rei grego Antíoco Epífanes quis forçar os judeus a adotar os costumes e a cultura dos gregos. Matatias, sacerdote judeu, lidera a resistência e a revolta contra os reis gregos e o grupo judaico que a eles se aliaram. A resistência procura a todo custo preservar a identidade religiosa e cultural do povo judaico. De início o objetivo da luta era a libertação religiosa, mas, aos poucos, se transformou em busca de independência política. Começada por Matatias, a resistência continuou depois com a liderança de seus filhos Judas Macabeu, Jônatas e Simão.
O livro identifica religião e patriotismo, descrevendo a revolta como verdadeira «guerra santa», abençoada pelo próprio Deus, que não abandona os que lutam para ser fiéis a ele (2,61; 4,10). É um convite para encarnar a fé em ação política e revolucionária. Ao invés de ser concebida como refúgio seguro fora do mundo, a fé se torna fermento libertador, que provoca transformações dentro da história e da sociedade. Sobretudo, mostra que um povo, por mais fraco que pareça, jamais deve se conformar diante da prepotência dos poderosos.
É claro que a união da religião com o patriotismo implica ambigüidades que não devem ser entendidas como desculpa para não lutar, e nem como ocasião para oportunismos arbitrários. Toda luta precisa estar em contínua revisão, a fim de que o projeto inicial não seja deturpado. Além disso, não nos esqueçamos do risco que implica uma luta feita em nome da religião: se a luta se desvirtua em busca dogmática do poder, Deus acaba sendo usado como patrocinador de ambições que nada têm a ver com o seu projeto; manipula-se Deus para sustentar um regime que oprime o povo, ao invés de libertá-lo. Por outro lado, o mesmo se pode dizer do ideal de patriotismo: muitas vezes é usado como pretexto para acobertar interesses de grupos que se servem do povo a fim de conseguir seus objetivos ocultos.