Religiões, devoções e atualizaçôes

Há quatro papas declarados santos nestes últimos 150 anos: Pio X, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. Mas três deles quase não são lembrados, exceto Pio X, porque muitos católicos conservadores seguem o catecismo de São Pio X.

Os santos dos últimos vinte anos são "São Pio de Pietrelcina", São José Maria Escrivá, os dois videntes de Fátima. E o anjo Miguel é o mais invocado!

Os movimentos de piedade costumam escolher e valorizar os novos santos e anjos. Há teologia, psicologia e sociologia nisso!

Poucos deles divulgam os santos mártires destes 150 anos. Raramente lembram Madre Tereza, Irmã Dulce, os três papas do Concílio, Maria Goretti e outros santos desde 1900. Fundadores de escolas, hospitais e santos caritativos quase não são divulgados em sermões. Menos ainda, os três santos que levaram adiante o Concílio de 1962-1965.

Mas há católicos divulgando o Catecismo de Trento de 500 anos atrás, mas eles não divulgam o catecismo dos anos 1970 proposto por São João Paulo II.

Quem os divulga? Movimentos de oração! Papas que atualizaram a Igreja e a liturgia e falaram de política católica raramente não recebem biografias. Um bispo mártir da América Latina quase não é mencionado em sermões.

Em resumo: doutrina social não mexe com estes piedosos pregadores e rezadores. Catecismo atualizado também raramente é citado. Santos, caridosos, fundadores de escolas, santos missionários que defenderam os pobres estão em esquecimento!

A preferência são os videntes, os que rezam rosário e os que combatiam o demônio.

O enfoque destes detentores de veículos de comunicação é valorizar a devoção a um santo anjo, como São Miguel Arcanjo, que combate ao pecado e o demônio.

São Gabriel, mensageiro e São Rafael, cuidador têm poucos devotos. Mas o anjo que combate o demônio é muito mais lembrado. Por que este enfoque? Tem a ver mais com psicologia e sociologia do que com teologia.

É escolha do Vaticano II ou são obra dos devotos que dispõem de modernos aparatos de comunicação?

Quem mais fez pela Igreja Católica nestes últimos 150 anos, desde 1870? Convocaram Concílios de atualização da Igreja. Propuseram atualização dos catecismos, escreveram quase 500 documentos católicos, buscaram diálogo ecumênico com outras igrejas, defenderam os trabalhadores, criaram sindicatos e diálogo entre patrões e operários, enfrentaram o comunismo e o capitalismo propondo uma doutrina social católica, criaram linguagens populares, puseram a missa em vernáculo, enfrentaram mais de trinta ditaduras, fundaram conferências episcopais, e nestes últimos 150 anos quem mais cuidou de enfermos e pobres foi a Igreja Católica, motivada pelos 12 papas desse período.

Mas quem mais bateu de frente contra o Concílio e contra as mudanças e atualizações? Uns poucos bispos, um grande número de padres e milhares de leigos com acentuada tendência política. Caluniaram Papas e bispos e padres que defendiam os pobres e os sem ninguém ! E divulgaram uma imagem do Vaticano e das dioceses como liderança infiel. Posaram como se fossem os verdadeiros católicos desses 150 anos e fizeram de tudo para diminuir a autoridade da hierarquia. São os católicos anti conciliares...

A divisão começou no combate contra a esquerda e contra a direita. Já no ano 1870 a Igreja teve que adiar o Concílio por razões políticas. A Igreja perdeu suas terras e seus territórios. Ficou reduzida ao pequeníssimo estado chamado VATICANO.

Duas grandes guerras encheram o mundo de pobreza e de sangue. Os Papas deste período gritavam pelo diálogo e pela paz.

Desde então o mundo está dividido entre ocidente e oriente, norte e sul, capitalistas e socialistas e comunistas, e igrejas pró direita e pró esquerda e pregadores anti esquerda ou anti direita.

Os Papas destes 150 anos pregaram incessantemente pelo entendimento, pelo diálogo e pelos migrantes, imigrantes, os sem terra e sem pátria.

Mas os ateus ganharam terreno e países, as novas igrejas ganharam terreno e adeptos; as igrejas dos anos 1000 ou 1500 também perderam fiéis. A política também as dividiu. Cresceram as micro igrejas, ou igrejas da prosperidade, quase todas divulgadoras da Teologia da Prosperidade; cresceram as devoções particulares ou mundiais mas o conhecimento da cristologia murchou.

Venceu a devoção e perdeu o catecismo, a teologia e a sociologia cristã!

É uma das mais recentes aulas que dei.

Fonte: https://www.facebook.com/padrezezinhoscj