Sacerdotes assépticos não ajudam a Igreja nos tempos atuais, afirmou o Papa Francisco esta quinta

O Papa Francisco se encontrou na manhã de hoje na Sala Paulo VI com os sacerdotes de sua diocese, Roma. O tema central do encontro, partindo do Evangelho de São Mateus, foi a misericórdia e assinalou que os sacerdotes devem poder comover-se frente aos fiéis já que os "sacerdotes assépticos não ajudam à Igreja”.

Em seu discurso o Santo Padre disse que os sacerdotes devem ter um coração que se comova porque “os sacerdotes assépticos não ajudam a Igreja”. “A Igreja de hoje pode comparar-se com um "hospital de campanha"; precisamos curar as feridas... Há muitas pessoas feridas, por problemas materiais, por escândalos, inclusive na Igreja... Gente ferida pelas ilusões do mundo”.

“Nós, sacerdotes temos que estar aí, ao lado destas pessoas. Misericórdia significa, acima de tudo curar as feridas.... não uma análise; depois serão feitos cuidados especiais, mas primeiro há que tratar as feridas abertas. Vocês conhecem as feridas de seus paroquianos?.. Estão perto deles?”.

O Papa recordou como Jesus caminhava pelas cidades e sentia compaixão pelas pessoas que encontrava, “pessoas cansadas e indefesas como ovelhas sem pastor”. “Não estamos aqui –disse o Santo Padre - para fazer um bom exercício espiritual de início de Quaresma, mas para escutar a voz do Espírito que fala com toda a Igreja em nosso tempo, que é exatamente o tempo da misericórdia”.

“Hoje todos esquecemos com muita rapidez, até mesmo o Magistério da Igreja. Em parte isto é inevitável, mas o grande conteúdo, as grandes intuições e as ordens ao povo de Deus nós não podemos esquecer. E a divina misericórdia é uma delas... Corresponde-nos , como ministros da Igreja, manter viva esta mensagem sobre tudo na predicação e nos gestos, nos sinais, nas decisões pastorais, por exemplo, na eleição de devolver prioridade ao Sacramento da Reconciliação, e ao mesmo tempo, às obras de misericórdia”.

O Papa perguntou logo: “O que significa ser sacerdote?” E explicou que os sacerdotes se comovem diante das ovelhas, como Jesus, quando via às pessoas cansadas e esgotadas como ovelhas sem pastor. Francisco recordou como o sacerdote, seguindo a imagem do Bom Pastor, é um homem de misericórdia, de compaixão, próximo dos seus.

“Em particular, o sacerdote mostra as entranhas da misericórdia na administração do sacramento da Reconciliação; Ele demonstra com toda sua atitude, com a maneira de acolher, de escutar, de aconselhar, de absolver... Mas isto depende de como ele mesmo vive o sacramento em primeira pessoa... Se o vive dentro de si, em seu próprio coração, pode também dá-lo a outros no ministério”.

No Sacramento da Reconciliação, explicou Francisco, a misericórdia significa “nem manga longa, nem mão dura”. “Frequentemente nossos fiéis nos contam que se confessaram com um sacerdote muito "rígido" ou muito "flexível", lasso ou rigoroso.

“Que haja diferenças de estilo é normal, mas as diferenças não podem estar na substância, a sã doutrina moral e a misericórdia. Nem o lasso, nem o rigoroso dão testemunho de Jesus, porque nenhum dos dois se encarrega da pessoa que encontra...”A verdadeira misericórdia se preocupa com a pessoa. E o sacerdote realmente misericordioso se comporta como o Bom Samaritano”...“Nem o lasso nem o rigoroso fazem crescer a santidade”, ressaltou.

“A misericórdia, por outro lado, nos acompanha no caminho da santidade, nos faz crescer... Em que sentido?... Através do sofrimento pastoral, que é uma forma de misericórdia. O que significa o sofrimento pastoral? Significa sofrer com e pelas pessoas, como um pai e uma mãe sofrem por seus filhos, e me permito dizer inclusive com “ânsia”.

O Santo Padre disse logo que ao final “seremos julgados por como soubemos nos aproximar de “cada carne”, à carne do irmão... Ao final dos tempos, será permitido contemplar a carne glorificada de Cristo somente a aqueles que não tenham tido vergonha da carne de seu irmão ferido e excluído”.