O nome de Deus é misericórdia! Sejamos misericordiosos!

Estamos celebrando, uma vez mais, o Domingo da alegria, chamado de Domingo laetare, cuja o centro da liturgia está na parábola lucana do pai misericordioso como gosta de falar o Papa Francisco ou do filho pródigo como muitos outros assim chamam. Na quarta etapa do “caminho da Quaresma”, a liturgia fala-nos de vida nova. Diz-nos como chegar lá. Convida-nos a experimentá-la.

Neste domingo, preenchidos da santa alegria nascida do coração do Pai misericordioso que reencontrou o Filho que estava morto e reviveu, somos convidados ao banquete festivo do Cristo Ressuscitado, o Vivente, que está no meio de nós!

A?primeira leitura – Js 5,9a.10-12 –?mostra-nos o Povo de Deus a começar uma nova vida na terra de Canaã. Para trás ficaram a escravidão do Egito e a desolação do deserto. Agora, na Terra Prometida, Israel pode começar a viver de uma forma nova, construindo um futuro de liberdade e de felicidade. É essa experiência – de passagem da escravidão à liberdade, da vida velha à vida nova – que somos convidados a fazer neste tempo de Quaresma. Israel, portanto, chega à Terra Prometida e celebra a Páscoa para comemorara a conquista. O maná, alimento do deserto, é substituído por pais e grãos, frutos da terra. Como é bom ver o povo viver do fruto do seu trabalho. A escravidão no Egito terminou, e agora começa, para o povo eleito, nova vida.

No?Evangelho – Lc 15,1-3.11-32 –, através da parábola do “pai misericordioso”, Jesus garante-nos que Deus nunca nos fechará as portas: estará sempre à nossa espera de braços abertos, pronto para nos acolher e para nos reintegrar na sua família. “Voltar para Deus” é a opção certa para quem quiser dar sentido pleno à sua existência.

A parábola do pai misericordioso é dirigida a dois grupos de personagens, a saber: de um lado, aos publicanos e pecadores; e de outro, aos fariseus e mestres da Lei. A um pai que possuía dois filhos é solicitada a repartição dos bens pelo mais novo. O filho, então, parte para um lugar distante e esbanja tudo em uma vida desregrada com prostitutas e bebedeiras. Arrependido, retorna e pede perdão ao pai, que o acolhe generosamente. O pai não pergunta nem onde e nem com que o filho esbanjou e liquidou com a herança que recebeu. Apenas o recebe, acolhe, abraça, perdoa e faz uma festa porque aquele que estava morto tornou a viver e aquele que estava perdido foi encontrado. Ao saber de tudo, o filho mais velho tem raiva. Procura o pai, relembra-lhe que jamais lhe foi desobediente e cobra-lhe vantagens. Contudo, pela fala do pai, intuímos que não foi apenas o filho mais novo que se perdeu, mas os dois. Na verdade, o mais novo perdeu-se por “fora”, no mundo, nas riquezas e futilidades da vida como a prostituição e as bebedeiras desenfreadas. Já o filho mais velho perdeu-se por “dentro”, na proximidade do pai, pois sua obediência criara-lhe um coração endurecido, incapaz de amar, perdoar e se alegrar com o retorno de seu irmão. Isso nos remete aos destinatários da parábola: o filho mais velho está em paralelo com os fariseus e mestres da Lei – que se perderam “dentro” –; e o filho mais novo está em paralelo com os publicanos e pecadores – que se perderam “fora”.

Na segunda leitura – 2Cor 5,17-21 –?São Paulo, recorrendo ao conceito de “reconciliação”, lembra-nos que Cristo veio derrotar o egoísmo e o pecado e sanar a separação que havia entre Deus e os homens. Aqueles que aceitam ligar-se a Cristo e caminhar atrás d’Ele, estão reconciliados com Deus. Vivem uma vida nova, a vida dos filhos queridos e amados de Deus. São Paulo, portanto, ensina sobre a renovação das pessoas a partir da morte e ressurreição de Cristo. Depois desse evento, toda a natureza é ressuscitada. Reconciliados por Cristo, tornamo-nos novas criaturas, comprometidas com a obra de Deus!

Neste tempo favorável de penitência, oração, jejum, abstinência de carne, perdão de nossos pecados e conversão a chave de leitura da parábola e da liturgia está no início do Evangelho de Lucas, onde é posta em evidência a misericórdia de Deus em Jesus, sempre pronto para acolher o pecador que a ele retorna.

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

Fonte: Cnbb
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