O chamado profético de Ezequiel e o nosso tempo

Neste mês de setembro, Mês da Bíblia, somos convidados a mergulhar nas profundezas do livro de Ezequiel, um dos grandes profetas do Antigo Testamento. Este profeta, chamado por Deus durante o exílio na Babilônia, enfrentou um contexto de crise, sofrimento e desolação. O povo de Israel havia perdido sua terra, seu templo e, aparentemente, seu vínculo com Deus. No entanto, foi nesse cenário de dor e exílio que Ezequiel trouxe uma mensagem de esperança, renovação e, acima de tudo, conversão.

O tema que nos guia neste ano é o chamado profético de Ezequiel: “Eu te farei sentinela para a casa de Israel” (Ez 3,17). Esta afirmação nos lembra de nosso papel enquanto Igreja: ser sentinelas do povo de Deus, vigias atentos às necessidades espirituais e sociais da comunidade. Ezequiel não só denunciou a injustiça e o pecado, mas também apontou o caminho de volta para Deus. Sua missão era difícil, muitas vezes incompreendida, mas ele permaneceu fiel ao que o Senhor o confiou.

A Visão do Vale de Ossos Secos

Uma das passagens mais emblemáticas do livro de Ezequiel é a visão do vale de ossos secos (Ez 37,1-14). Nesta visão, Deus revela ao profeta que, mesmo no meio da morte e da desesperança, Ele pode restaurar a vida. Os ossos secos simbolizam um povo sem esperança, sem rumo, que perdeu a fé. Quantas vezes, em nosso mundo contemporâneo, não nos sentimos assim? Diante de tantas dificuldades, da violência, da pobreza e das injustiças, muitos perdem a esperança.

Contudo, a mensagem de Ezequiel ecoa forte: o sopro de Deus pode restaurar o que está morto. A Palavra de Deus, quando anunciada com fidelidade, tem o poder de dar nova vida àquilo que parecia perdido. Assim, somos chamados a confiar que, mesmo diante dos desafios que enfrentamos como sociedade, a transformação é possível quando deixamos que o Espírito Santo nos guie.

O Profeta Como Sentinela

Ser sentinela, como Ezequiel foi chamado a ser, significa estar em constante vigilância, atentos aos sinais dos tempos e à voz de Deus. Em nossa diocese e em nossas comunidades, também somos chamados a ser vigias, especialmente em momentos de crise moral e espiritual. Devemos estar atentos às necessidades dos mais pobres, dos marginalizados, dos que sofrem a exclusão e o abandono. Como Ezequiel, nossa missão não é apenas denunciar, mas também anunciar a esperança que vem de Deus.

Renovação e Conversão

O chamado de Ezequiel é um chamado à conversão, à renovação interior e comunitária. O povo de Israel, no exílio, teve que reconhecer seus erros e voltar-se para Deus com um coração contrito. Nós, hoje, somos convidados a fazer o mesmo. Vivemos tempos de crise e incerteza, mas é precisamente nesses momentos que a voz profética da Igreja deve se erguer com mais força, conclamando todos à conversão e à renovação de nossa fé e de nossas ações.

Que neste Mês da Bíblia, à luz do livro de Ezequiel, possamos renovar nosso compromisso de sermos sentinelas da justiça, da verdade e da caridade. Que possamos ouvir o chamado profético de Deus em nossas vidas, discernir os sinais dos tempos e trabalhar pela construção de uma sociedade mais justa e fraterna, onde o sopro do Espírito Santo transforme ossos secos em vida plena.

Que Nossa Senhora Aparecida interceda por nós, para que, como Ezequiel, sejamos fiéis ao nosso chamado de levar a Palavra de Deus ao mundo com coragem e esperança.

Paz e bem!

Dom Jailton Oliveira Lino
Bispo de Teixeira de Freitas Caravelas (BA)

Fonte: Cnbb
https://www.cnbb.org.br