Francisco convida mulher casada com divorciada a voltar para a igreja

As ligações telefônicas do Santo Padre aos fiéis que lhe escrevem têm sido notícia em grande quantidade de ocasiões desde o começo deste pontificado.

Nesta quarta-feira, surgiu novamente na mídia um caso que levantou polêmica por ter sido interpretado como relaxamento da postura da Igreja no tocante à comunhão dos divorciados que voltaram a se casar. O Vaticano não se pronunciou sobre o real conteúdo da ligação telefônica, por ser assunto privado do Santo Padre.

"Olá, aqui é o padre Bergoglio", escutou do outro lado da linha o marido de Jaqueline Lisboa, uma mulher de San Lorenzo, Argentina, que, faz alguns meses, enviou um e-mail para o papa Francisco.

As primeiras notícias publicadas falavam de uma mulher divorciada que tinha se casado novamente no civil e que tinha recebido uma ligação do papa dizendo que ela podia comungar porque não estava fazendo nada de errado.

Mais tarde, outros meios de comunicação publicaram que a protagonista da história, que não era divorciada, mas casada com um divorciado, tinha falado com rádios argentinas e feito afirmações como "Não me deixavam me confessar nem comungar porque teoricamente eu vivia em pecado. Meu marido é divorciado e eles me diziam que não podiam me dar a comunhão porque, quando eu voltasse para casa, voltaria a ficar em pecado". Ou que o papa tinha ligado para dizer à mulher “que ela podia voltar (para a Igreja)”. E assim, ao longo do dia, foram aparecendo declarações e afirmações de Jaqueline, do seu marido e até do papa, citadas entre aspas como se tivesse sido feitas literalmente, nas quais os meios de comunicação citavam uns aos outros sem procurar as fontes.

ZENIT consultou a entrevista feita a Jaqueline pela Radio del Plata, no programa do jornalista Gustavo Sylvestre. Na entrevista, a protagonista da história relata a sua versão do que aconteceu.

Jaqueline explica que está casada há 19 anos, no civil, com um homem divorciado cujo casamento anterior tinha sido celebrado na Igreja. Ela conta que um sacerdote lhe disse, há dez anos, que ela não poderia comungar. Jaqueline se diz "não praticante": frequentava a igreja quando criança, mas, com o tempo, se foi afastando e, depois das declarações daquele padre, "ficou mais contrariada ainda".

Sobre o porquê de ter escrito ao papa, ela relata: "Porque ele é argentino e você fica na confiança de que talvez ele responda". Na entrevista, ela diz que enviou um e-mail a Francisco porque viu pela televisão um endereço de contato com ele e resolveu contar ao papa que se sentia uma "católica de segunda classe". Ela mandou o e-mail em setembro e a ligação do Santo Padre foi feita no dia 21 de abril. A chamada aconteceu "um pouquinho antes das duas da tarde" (19h em Roma) e quem atendeu foi o marido, Julio. Quem se apresentou foi "o padre Bergoglio". O marido passou o telefone para Jaqueline.

Ela conta que o papa a convidou a voltar para a Igreja: "[Ele disse que] eu podia voltar, e, bom, é isso o que eu vou fazer alguma horinha".

O jornalista opina sobre o que chama de "essa discriminação na Igreja", em que "pessoas de fé, na hora da comunhão, são marginalizadas, [porque] não poder comungar é realmente muito constrangedor". Jaqueline acrescenta que "as pessoas se afastam cada vez mais porque são coisas do século mais que passado". Ela explica que irá à igreja "qualquer horinha dessas, mas ainda não sei, quero me tranquilizar e quero fazer isso com muita fé". Por outro lado, ela contou que o papa a aconselhou a não ir à igreja do seu bairro. E explicou que, se o padre soube da sua situação, é porque ela contou a ele em confissão.

Ao finalizar a entrevista, Jaqueline conta que o papa deu uma bênção à família e que toda a família viveu aquele momento com muita emoção e alegria. "Todos nós choramos", afirma.

Em outra entrevista que Jaqueline concedeu à Radio La Red AM 910, de Buenos Aires, ela narra que o papa "me disse que existem padres mais papistas do que o papa. Ele falava comigo de um jeito muito normal. Eu tentei falar com o maior dos respeitos. Agora estou assombrada com a dimensão que o caso ganhou; estou emocionada por ter falado com Francisco. Eu disse que vou escrever de novo quando for comungar”.

Muitos meios de comunicação também divulgaram o perfil do marido, Julio Sabetta, no Facebook. Ele tinha escrito: "Hoje me aconteceu uma das coisas mais lindas depois do nascimento das minhas filhas. Recebemos a ligação em casa de ninguém mais nem menos que o PAPA Francisco. Foi uma emoção muito grande. Até o momento não caiu a ficha. Essa ligação foi originada pela minha esposa, que enviou uma carta para ele. E ele se deu o trabalho de ligar e conversar com ela. Posso garantir que quando ele fala você fica em paz total. Obrigado, Deus, por esta bênção".

O Santo Padre convocou um sínodo extraordinário dos bispos sobre o tema da família para outubro de 2014 e um sínodo geral para 2015, a fim de aprofundar nas diretrizes pastorais que devem ser adotadas no tocante ao magistério da Igreja e aos ensinamentos de Jesus.