O período quaresmal é primordialmente um tempo de penitência, marcado por obras de misericórdia, jejum e mortificação. Assim como o Povo de Israel e Jesus experimentaram o deserto, onde foram tentados pelo inimigo, nós também nos encontramos em nosso próprio deserto durante a Quaresma, enfrentando tentações que devemos superar, mergulhando nossa vida em Deus, nossa fonte de força.
O Papa Francisco nos lembra que Deus nunca se cansa de nós, e a Quaresma nos é oferecida como um tempo de conversão e liberdade. Jesus mesmo foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser testado em sua liberdade. Ao contrário do Faraó, Deus não busca súditos, mas filhos. O deserto se torna, então, o espaço onde nossa liberdade pode amadurecer, decidindo não cair novamente na escravidão do pecado.
A Quaresma é um sinal sacramental de nossa conversão, concedendo-nos a graça de crescer no conhecimento do mistério de Cristo, através da escuta atenta da Palavra de Deus e da sua compreensão espiritual. Este é um período crucial para testemunharmos nossa fé com uma conduta de vida digna, traduzindo o Evangelho em nossas ações e escolhas diárias, o que implica em uma contínua conversão e renovação de nossa identidade cristã.
Joseph Ratzinger observa em suas obras que, antes da reforma pós-conciliar, o calendário litúrgico possuía um intricado entrelaçamento de tempos, ressaltando a importância do Mistério Pascal na Liturgia cristã e a valorização do Domingo como dia consagrado ao Senhor.
A Constituição Sacrosanctum Concilium destaca a ênfase no Mistério Pascal durante os diferentes tempos litúrgicos, incentivando práticas de piedade, instrução, oração e obras de penitência e misericórdia. A natureza penitencial da Quaresma é enfatizada como uma detestação do pecado como ofensa a Deus.
O Concílio delineou o período quaresmal como uma preparação para a celebração do Mistério Pascal, convidando cada cristão a renovar sua adesão ao Senhor através do batismo e do compromisso de conversão pela penitência. É um tempo de crescimento espiritual, onde somos desafiados a enfrentar nossas limitações e a buscar a ajuda de Deus no deserto de nossas vidas.
O jejum é uma prática importante durante a Quaresma, permitindo-nos confrontar nossos pensamentos e sentimentos, e revelando a verdadeira essência de nossa vida e bem-estar. A Igreja no Brasil propõe o jejum e a abstinência de carne em dias específicos, destacando a importância do bom senso para manter o sentido espiritual e penitencial do jejum.
Em suma, a Quaresma é um tempo de graça e renovação espiritual, onde somos convidados a nos aproximar de Deus através da penitência, da oração e do jejum, preparando-nos para celebrar a vitória de Cristo sobre a morte na Páscoa.