O Arcebispo de Adelaide (Austrália), Dom Philip Wilson, foi sentenciado na terça-feira, 3 de julho, a 12 meses de prisão, depois que em maio foi considerado culpado por não informar sobre as denúncias de abuso sexual infantil que recebeu na década de 1970.
É provável que o arcebispo cumpra sua sentença em regime domiciliar e conte com uma tornozeleira eletrônica, segundo informações da mídia. Um juiz deverá confirmar esse acordo em uma audiência no próximo dia 14 de agosto.
Até o momento, Dom Wilson, de 67 anos, não renunciou como Arcebispo de Adelaide.
O Papa Francisco nomeou em 3 de junho o Bispo de Port Pirie, Dom Greg O’Kelly, como Administrador Apostólico de Adelaide. Entretanto, não se espera que Dom O’Kelly, de 76 anos, suceda Dom Wilson, especialmente porque já superou a idade em que os prelados apresentam sua carta de renúncia ao Santo Padre.
Durante a audiência da sentença no dia 3 de julho, o juiz Robert Stone disse que Dom Wilson não havia mostrado “remorso ou arrependimento” antes da imposição da sentença.
Dom Wilson foi condenado por ocultar o abuso sexual infantil cometido por um pároco, companheiro seu, em Nova Gales do Sul na década de 1970. Naquela época, Wilson havia sido ordenado sacerdote apenas um ano antes.
As vítimas, Peter Creigh e outro coroinha cujo nome não foi divulgado por razões legais, contaram ter comunicado ao Pe. Wilson sobre os abusos sofridos por parte de Pe. James Fletcher.
Durante o julgamento, Creigh assegurou que narrou ao então Pe. Wilson detalhes que demonstravam o abuso sofrido em 1976, cinco anos depois do ocorrido. Entretanto, o hoje Arcebispo de Adelaide disse que a conversa nunca aconteceu.
“Não acho que eu teria esquecido”, assinalou em uma audiência judicial em 11 de abril.
A segunda vítima disse que contou ao então sacerdote sobre o abuso no confessionário em 1976, mas que este lhe deu uma penitência, assegurando que estava mentindo. Wilson disse que nunca diria a alguém no confessionário que não dizia a verdade e que não se lembrava de ter visto o rapaz em 1976.
Pe. Fletcher foi declarado culpado de novas acusações de abuso sexual e foi preso em 2006. Morreu vítima de um derrame cerebral naquele ano. Dom Wilson disse que não havia suspeitas anteriores sobre a integridade pessoal do pároco.
Dom Wilson também disse à corte que se tivesse sido notificado sobre o escândalo, teria oferecido atenção pastoral às vítimas e suas famílias e informado o fato aos seus superiores.
A equipe legal de Dom Wilson argumentou durante o julgamento que o abuso sexual infantil não era entendido na década de 1970 como um delito que requeria informar às autoridades.
O juiz Stone, porém, disse que proteger a Igreja Católica era o “motivo principal” de Dom Wilson para não informar sobre as acusações de abuso.
Resposta dos bispos da Austrália
Em um comunicado emitido na terça-feira, 3 de julho, a Conferência Episcopal da Austrália reconhece que, embora “os efeitos do abuso sexual possam durar toda a visa”, espera “que a sentença de hoje dê certa sensação de paz e cura aos abusados pelo falecido sacerdote James Fletcher”.
“Requer-se grande coragem para que os sobreviventes se aproximem para contar suas histórias. Sobreviventes que foram vitais para nos ajudar a aprender a lição de nossa vergonhosa história de abuso e ocultamente que foi exposta na Comissão Real”, continua o texto.
Do mesmo modo, os bispos garantem que “a Igreja realizou mudanças substanciais para assegurar que o abuso e o encobrimento não sejam parte da vida católica e que as crianças estejam seguras em nossas comunidades”.
“Continuaremos trabalhando com todos aqueles na Igreja e além que buscam estabelecer normas de segurança sólida e consistente em toda a Austrália, incluindo como respondemos às acusações de abuso sexual”, conclui o comunicado.