Padre, cantor, catequista
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Nuvem só

Uma nuvem que, sozinha, passeava lá no céu, me disse muitas coisas. Eu sei que nuvens não falam, mas eu as imagino falando. Não é porque sou louco, mas porque sou poeta que lhes falo. Deus me deu a capacidade de tirar conclusões até daquilo que não vejo e que não ouço. Estudei filosofia e acredito em sonhos...

Pois bem, a nuvem que sozinha passeava lá no céu, num dia claro de outono, me fez pensar no cidadão sozinho que muitas vezes não é percebido, até mesmo quando ele é o único no pedaço.

Algumas pessoas têm essa capacidade ou sina de, mesmo estando sozinhas, não serem percebidas por quem chega. É como se não existissem. São anônimas até quando não há mais ninguém por perto.

É como dizia um menino numa casa onde era ignorado: “Eu passo, grito, berro e urro e parece que ninguém me ouve. Não é porque não escutam, é porque não querem me escutar”.

O ser humano tem essa incrível capacidade de ouvir sem ouvir e de ver sem ver. Somos seletivos. Vemos o que queremos ver e fazemos de conta que não vemos o que não queremos ver. Ouvimos o que queremos ouvir e fazemos de conta que não era conosco aquele som que nos procurava. Por isso produzimos tanta solidão e por isso nos sentimos, às vezes, tão solitários. É que não incluímos o outro em nossa vida.

Aquela nuvem sozinha no céu me fez pensar nos inúmeros velhinhos com histórias para contar e ninguém para ouvi-las. Nas crianças com pequenas historinhas para contar e pais sem tempo para ouvi-las. Nos adolescentes com mil façanhas a contar e sem amigos para ouvi-los.

Deve ser muito doloroso ter muitas coisas a dizer e ninguém para ouvi-las. A solidão do homem moderno e de todos os tempos é feita dessa indiferença. Muitas vezes, quem não tem quase nada a dizer tem à disposição os microfones e as câmeras do mundo e quem tem muito a dizer nunca foi chamado a falar para mais do que duas ou três pessoas.

Deve ser por isso que homens e mulheres de cultura, pessoas donas de profundo conhecimento acabam se conformando em falar para poucas pessoas. Não porque não seriam entendidos pela multidão, mas porque há uma certa mídia que não se interessa em repercuti-los.

Como desejam partilhar sua cultura, mas não de qualquer jeito, preferem não estar na mídia. É como a estória da avestruz que bota ovo grande, mas faz barulho bem menor do que a galinha, cujo ovo é mais de 20 vezes menor que o da avestruz.

É difícil explicar uma nuvem solitária, mas o fato é que ela existe. Algum vento a trouxe ali. Amanhã talvez venham outras nuvens. Podemos escolher chamá-la de nuvem desgarrada ou de nuvem pioneira. Mas aí depende da nossa cabeça e não da nuvem.

Fonte: www.padrezezinho.com